"Sopra-se uma corrente delicada de ar, e, simples o suficiente, elas formam-se. Só sabão e água, mais nada. Não tem artifícios nem malabarismos por trás, tão simples quanto isso – sabão e água.
São iridescentes, dizem. Fenómeno da irisdescência, significa que têm a capacidade de reflectir as cores do arco-íris. Mesmo entre os verdes, amarelos e azuis, e a formação daquele púrpura que podemos observar nelas, é possível ver com clareza através das mesmas, não escondem nada, tudo o que têm para mostrar mostram-no e têm-no à superfície, para quem quiser ver. E nessa superfície, nada mais fazem do que reflectir as cores – superfície fina, frágil, até, chamemos-lhe assim. Frágil, mas consistente o suficiente para conseguir reflectir aquilo que considera valer a pena reflectir. Depende, no entanto, do olho de cada um e até que ponto se pretende ver o que está reflectido.
Fazem a sua vida sem incomodar ninguém; pairam pelo ar, se o vento soprar mais forte, elas seguem-lhe o passo, se soprar mais fraco, acompanham-no de qualquer das formas. No entanto, inevitavelmente, virá uma rajada de vento demasiado forte e, como são frágeis, ou rompem no momento em que essa rajada as atingiu, ou essa rajada propulsiona-as de encontro à superfície, e em toda a sua fragilidade, elas rompem e deixam de existir, deixam de reflectir as cores, deixam de reflectir a beleza.
São, de facto, só bolhas de sabão. Pequenas coisas insignificantes que muitos olham de lado, acham incomodativas até, fogem delas porque deixam a pele molhada, deixam nódoa na roupa, durante o tempo que for, deixam uma marca. Insignificantes? Talvez. Ao fim ao cabo, a realidade é que não duram para sempre, são limitadas em número, a sua existência é curta, e enquanto existem não fazem mal a ninguém, limitam-se a ser um espelho, uma reflexão do mundo como ele é, uma reflexão real mas na qual nem todos acreditam.
São só isso, essas pequenas coisas. Elas não duram para sempre. Apreciem-nas."
por Rafael Espingardeiro a Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2011 às 6:54.
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