No que diz respeito a datas e com horas, sou igualzinha a si, Pai; como sabe, nunca sei a quantas ando e quando não me esqueço de uma data ou me atraso numa hora é porque vou a jogo com tudo e apareço tardiamente no dia errado.
Talvez seja por essa semelhança, entre tantas outras, que o Pai está no topo da lista das pessoas que não se aborrecem comigo por causa de tais lapsos. E talvez seja pelas outras tantas semelhanças que o tempo entre nós foi sempre mágico, independentemente de ser um segundo ou várias horas seguidas.
Talvez seja por essa semelhança, entre tantas outras, que o Pai está no topo da lista das pessoas que não se aborrecem comigo por causa de tais lapsos. E talvez seja pelas outras tantas semelhanças que o tempo entre nós foi sempre mágico, independentemente de ser um segundo ou várias horas seguidas.
Hoje é o seu dia de anos e calculo que esteja surpreendido por me lembrar tão cedo e sem ajuda de um lembrete no telemóvel ou um telefonema de alguém; se pudéssemos falar, perguntaria em tom de brincadeira se estou doente… Coração partido, desorientação e lágrimas conta como doença? Acho que não. Mas devia. A morte de alguém chegado é sempre um choque, uma altura de grande stress e pouco interessa se o desfecho era já previsível ou não; fruto da nossa cultura, a única coisa que temos certa na vida é também a única para a qual não nos conseguimos preparar.
Durante os últimos meses conversámos muito, falámos de sentimentos e emoções escondidas e a cumplicidade que sempre existiu entre nós atingiu o seu auge; acho que nada ficou por dizer nem despedida por fazer e, portanto, não me vou alongar muito. Entre tanta semelhança há diferenças também e, hoje, estou-me nas tintas para as luzes, a exposição ou o low-profile. Sinto necessidade de dizer que tenho um orgulho ENORME no Pai, no ser humano que foi e nos valores que nos transmitiu sempre de forma simples, com grande humildade. E quero agradecer… estou grata por nos ter chamado quando realmente precisou, estou grata por nos ter deixado emprestar-lhe a nossa força e, com isso, desfrutar mais um pouco da sua presença. A batalha foi dura mas tenho a certeza que se tornou mais leve dividida por todos. Obrigada, Pai!
A saudade é grande, as memórias muito vívidas e a dor da perda ainda demasiado fresca para prometer não chorar mais mas encontrei nas palavras de Santo Agostinho muito da forma como o Pai encarava esta passagem e sei que, em breve, as lágrimas irão secar e tudo vai ficar bem. Afinal, é apenas um até á vista e a vida continua!
“Se me amas, não choresSe conhecesses o mistério imenso do Céu onde agora vivo,
Este horizonte sem fim, esta Luz que tudo reveste e penetra,
Não chorarias se me amas!
Lembra-te dos bons momentos que vivemos juntos
E verás que a saudade é também presença.
Quando estiveres triste, infeliz, chama-me
Eu virei ajudar-te, consolar-te
E verás como é bom ter um amigo do outro Lado.
E quando chegar também a tua vez, não chorem os que ficam,
porque não será um adeus, mas, simplesmente um até à vista
E eu estarei lá, para te receber…
A morte não é nada. Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro, ainda o somos..
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou,
sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Por que eu estaria fora dos teus pensamentos,
apenas por que estou fora da tua vista?
Não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem…
Redescobrirás o meu coração,
E nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas,
e se me amas, não chores mais.”
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